À margem da margem: a experiência de uma cicloentregadora na cidade de São Paulo
Resumo
A produção sociológica em torno do trabalho por plataformas de delivery tem crescido e levantado questionamentos acerca das formas de controle ali presentes, das condições laborais dos entregadores e da precariedade inerente a essa atividade. Contudo, as características dos trabalhadores das plataformas raramente figuram nas investigações sobre esse tipo de trabalho. Muitas dessas análises identificam que o trabalho de entrega por plataforma de delivery é uma atividade realizada sobretudo por homens jovens. De fato, a presença de mulheres nesse universo é minoritária. Não obstante, existem pesquisas que buscam tratar da experiência das mulheres com as entregas; devido à baixa representatividade feminina em meio à população geral de entregadores, porém, elas se voltam sobretudo aos coletivos e cooperativas dedicados a mulheres e pessoas LGBTQIA+. Ignorado por essas duas tendências analíticas, que parecem se comportar como os extremos de um continuum, encontra-se um objeto que, embora minoritário no plano da realidade, possui grande importância para a compreensão geral da atividade de entrega por empresas-plataforma: as entregadoras ciclistas das empresas-plataforma de delivery. A partir de uma pesquisa etnográfica, explora-se o caso de uma entregadora do sexo feminino, com o fito de tecer um retrato que contraponha a experiência masculina – majoritária – com as plataformas de delivery àquela vivenciada pelas mulheres cicloentregadoras na cidade de São Paulo.