Gênero e Trabalho no Brasil: Os desafios da desigualdade
Resumo
Os dados relativos à estrutura ocupacional brasileira nos últimos anos apontam para uma relativa melhoria das desigualdades de gênero. Com efeito, as mulheres melhoraram suas posições relativas no que concerne às taxas de desemprego, renda média e porcentagem de trabalhadoras formalizadas. Ressalte-se, contudo, que as desigualdades persistem e que elas têm a ver com uma questão mais estrutural, que pouco muda ao longo dos anos, que se refere à segmentação do mercado de trabalho, ou seja, à segregação das mulheres em determinadas atividades.
A questão da segregação das mulheres no trabalho já foi analisada por diversas teorias que tentam explicar porque elas se inserem em ocupações mais precárias e nas quais os rendimentos tendem a ser menores[1]. Foram, contudo, as teorias feministas que elucidaram as relações entre a divisão sexual do trabalho doméstico e o produtivo (Hirata e Kergoat, 2007; Humphries e Rubery, 1984; Hirata e Maruani, 2003; Kergoat, 1998 e 2000), evidenciando que essa persistência tem a ver com uma construção social de gênero que confere a elas a responsabilidade pelas tarefas domésticas e aos homens o papel de provedor.
*Este texto se alimenta das discussões feitas no Programa GRPE (Gênero, Raça, Pobreza e Emprego) da OIT, do qual fui consultora por vários anos entre 2000/2014. Ele se alimenta também de material desenvolvido por Maysa Garcia e por mim na Argumento Consultoria. Agradeço a Maysa e aos sindicalistas, sobretudo as mulheres, com quem travamos ricas discussões sobre o tema.
[1] Refiro-me aqui sobretudo às teorias neoclássicas que, com vários matizes, buscaram (e ainda buscam) explicar as decisões empresariais de admissão de trabalhadores e trabalhadoras por cálculos racionais, relacionados ao lucro e à produtividade. Assim, a preferência das empresas por trabalhadores do sexo masculino, especialmente para os postos mais qualificados e bem remunerados, teria a ver com a maior qualificação dos homens e seus menores custos, quando comparados aos das mulheres. Para uma discussão mais aprofundada sobre o tema, ver DeGraff e Anker, 2004; Abramo e Todaro, 2002.